Halloween, ou dia das bruxas, depende dos gostos, mas também poderia ser o dia do culto aos mortos, ou ainda de homenagem ao diabo, é indiferente.
Neste tipo de fenómenos sociais com alguma longevidade, comumente, vai-se perdendo no tempo a ideia concreta da sua razão de existir, por isso podem encontrar-se na literatura as diversas versões sobre as origens desta celebração. Porém, em todas elas existe um denominador comum, que se prende com o facto de se tratar de um momento em que se invocam os mortos e o obscurantismo em geral, portanto, uma passagem por terrenos perigosos de domínio satânico.
É perfeitamente compreensível que da parte de uma enorme massa humana ignorante nestes assuntos do transcendente, exista, por arrasto, uma tentação para participarem nesta festa e, ao abrigo dessa mesma ignorância, a encarem por mera diversão, achando-lhe graça, nada mais que isso. No entanto, para outra enorme massa humana, quiçá ainda mais numerosa, em particular a das pessoas que se dizem cristãs, tal ignorância não poderá ser facilmente aceite como explicação, ou não o deveria ser, na medida em que para se ser cristão, dever-se-á, no mínimo, ter a noção que o diabo é o maior opositor de Cristo. Posto isto, fica no ar, por esta altura do ano, a eterna questão do porquê de, em todo mundo, tantas pessoas que se dizem cristãs fazerem este tributo ao maior inimigo do seu próprio Deus.
Estes paradoxos são tão antigos quanto as próprias celebrações deste tipo, porque se repararmos bem, onde existem, nomeadamente, igrejas católicas, existem, também, recantos de cultos satânicos, algumas dessas igrejas, inclusive, são sobejamente conhecidas por na sua envolvência se praticarem rituais de feitiçaria e afins. Também, curiosamente, em países de tendência fortemente cristã – ou melhor, onde se dizem cristãos – são aqueles onde a celebração da bruxaria é mais evidente e apetecível.
Até aqui, festa por festa, se poderá entender que tantas pessoas alinhem nisto, o problema é que a ignorância de quem o alimenta vai ofuscando as cruéis realidades que entretanto decorrem em torno deste tipo de celebrações, que, igualmente, são tão antigas quanto a própria celebração, nomeadamente aqueles rituais que envolvem sacrifícios de vidas, inclusive humanas, de crianças em particular. E por aqui se entra noutro paradoxo, é que a bruxaria, feitiçaria, satanismo e afins, no fundo, aquelas crenças que são conotadas com rituais em que se sacrificam crianças e animais, são exatamente o tema de muitas séries e filmes infantis, assim como, atualmente, é, exatamente às crianças que se impinge, abusando da sua inocência, este tipo de festas. Ou seja, anualmente assiste-se ao deprimente espetáculo de crianças felizes nas ruas, mascaradas de personagens do oculto, a promoveram uma festa onde existem casos de crianças a serem sacrificadas, assim como os animais de que tanto gostam.
Felizmente, mesmo que ainda de forma residual, já vão surgindo algumas iniciativas de proteção de pessoas e animais a este tipo de práticas, implementadas oficialmente ou por voluntários, como na Hungria, em que gatos pretos, por exemplo, já podem beneficiar de uma maior proteção. Medidas destas serão sempre muito curtas para a dimensão deste problema, principalmente quando da proteção da vida das crianças se trata, porque aí o negócio é demasiadamente obscuro para ser facilmente detetado e posteriormente denunciado.
Posto isto, é bom que se tenha sempre presente, que não é só na ficção cinematográfica, ou fruto da mente das pessoas mais criativas que estes crimes hediondos ocorrem. Infelizmente, são bem reais e mais comuns que aquilo que se possa imaginar, estando na base, no decorrer e no propósito deste tipo de celebrações, mas, por motivos óbvios, na escuridão, longe da vista de quem nas ruas, na sua ignorância, alimenta toda esta violenta orquestração demoníaca.
Pedro Ferreira © 2022
(Todos os Direitos Reservados)
Sem comentários:
Enviar um comentário