O caminho já ia longo e Arcos de Valdevez tinha ficado para trás fazia uma meia-hora, com o objetivo de chegar a Monção onde iria saber como néctar dos deuses uma água fresca tomada à beira-rio num dia ardente de verão, quando, inesperadamente, para quem passa por aqueles lados por uma primeira vez, surge à margem da estrada uma entrada para um cenário em tudo semelhante aos que aparecem nos contos de fadas.
Aguçada a curiosidade e desperta vontade de interagir com aquele cenário, os primeiros passos são delicados, pautados por uma encantadora, mas ao mesmo tempo estranha sensação de se estar a entrar num espaço que pertence a outro mundo e a outra época, onde o silêncio ecoa por todo o lado.
Pessoas famosas, dizem as regras do protocolo, são recebidas com um tapete vermelho, mas para quem ao abrigo do anonimato, simplesmente, apenas pretende apreciar coisas belas, o frondoso verde do relvado que medeia o portão da quinta e o imponente edifício principal, serve perfeitamente como tapete de receção, a não pisar e ajuda a descontrair, tornando os passos mais confiantes e prazerosos.
Maria Hermínia Silva d’Oliveira Paes, ilustre empreendedora da região, é um nome que se ouve logo à chegada, na medida em que, sem se dar conta, encontramo-nos dentro de uma enorme prenda que seu pai, Francisco de Oliveira Paes, lhe ofereceu em 1937, adquirida por um valor, convertido em euros, equivalente a 3000€. Belíssima prenda, na qual residiu até ao final dos seus dias numa ala reservada, a qual, até à presente data encontra-se interdita ao público, aguçando ainda mais a curiosidade dos visitantes, sobre as múltiplas fascinantes histórias das quais aquelas enormes paredes se tornaram fiéis guardiãs.
Claro está, que desde que foi idealizada, iniciada a sua construção e finda, impressionantemente, apenas quase 3 décadas mais tarde, assim como por via das consequentes aquisições, algumas outras ilustres figuras foram dando vida a este espaço, resultando em muitas outras histórias ora contadas, ora ficadas por contar para sempre, as quais se ilustram com a multiplicidade e diversidade de peças decorativas, ferramentas e mobiliário, de entre outros objetos, que podem ser apreciados de compartimento para compartimento, ou de área para área, interior ou exterior, cada qual com o seu fascínio, como se estivéssemos a assistir a uma peça de teatro com vários palcos.
Das histórias que se contam, uma diz-nos que por aqui terão passado Salazar e Franco, que ao bom jeito do regime português de então, assente num único lema, o do “quero posso e mando”, quem ditava as regras em casa alheia era o ditador, inclusive as regras de indumentária da própria anfitriã, cuja presença somente era permitida por convite, que a ser aceite tinha como regra número um “ficar calada o tempo todo”. Novamente o silêncio…
Por aqui, tudo parece levar muito tempo e em silêncio se espera, como a aguardente dentro das barricas de casca de carvalho francês que espera na sombria e belíssima adega, que decorram 10 a 12 anos para que finalmente possa revelar o seu característico tom caramelo de sublime sabor aveludado.
Apenas os sinos, a “central de telecomunicações” da quinta, quer o de toque mais grave, ou o de toque mais agudo, quando tocados, quebram o silêncio daquele chão brejo onde cravam as raízes o Alvarinho e o Palácio da Brejoeira.
Palácio da Brejoeira
Pedro Ferreira © 2022
(Todos os Direitos Reservados)
Sem comentários:
Enviar um comentário