segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Numa Guerra de Estupidez Ninguém Vence

Desde que se começou a falar no nuclear, que da pessoa mais entendida no assunto à mais distante do mesmo, gerou-se a ideia que numa guerra com essa base ninguém venceria, numa espécie de consciência coletiva que, infelizmente, para muitas pessoas, quiçá a maioria, não passa de mera retórica, porque lá no seu mais profundo ser, até teriam curiosidade em saber como seria o resultado.

Porém, se tentarmos aproveitar o aproveitável desta noção, ou seja, se nos quedarmos pela consciência coletiva de que o dano seria irreversível, certamente colocando cobro à própria existência de vida na Terra, seria oportuno criarem-se algumas analogias menos belicistas, mas igualmente perigosas, as que geram um conflito à escala global muito mais silencioso, quase invisível e não palpável, nomeadamente aquele conflito em que as munições são a estupidez, pois, a causa efeito é em tudo semelhante a um conflito nuclear, porque nenhuma pessoa sai vencedora, ou se se preferir, toda a humanidade perde.

Contudo, numa guerra tendo por base a estupidez, existe uma agravante comparativamente a uma nuclear, é que desta última, das terríveis consequências ainda se vai tendo a tal consciência atrás referida, mas em relação à primeira raríssimo é o ser-humano que pensa nisso, quanto mais ter noção do mal que daí advém.

Como não existe essa consciência sobre as devastadoras consequências resultantes de um conflito com base na estupidez, por norma, demasiados humanos usam e abusam desse projétil, do qual se podem munir de forma gratuita e em grandes quantidades, que depois arremessam entre si e para quem, inocentemente, tenha o azar de se atravessar à sua frente, fazendo-o 24 sobre 24 horas ininterruptamente.

Uma guerra constante, em que esse composto infindável de características de personalidade menos abonatórias, de onde se destacam o egoísmo, a irresponsabilidade, o narcisismo e a antipatia, que se sintetizam numa só palavra, estupidez, que é muito notório logo ao despertar da manhã, no trânsito, por exemplo, em que a maioria dessa massa de criaturas estupidas não consegue perceber que a cada estupidez que arremessam sobre outrem, ninguém ganha, todos perdem. Por exemplo, optam por ficar com as respetivas viaturas paradas em fila num entroncamento/cruzamento e não deixar passar quem vem das laterais, convencidos que dessa forma tiram vantagens, eventualmente que por magia o trânsito passe a fluir de súbito. Não, não acontece conforme esse imaginário, mas o contrário, complica ainda mais a circulação, porque dessa forma ninguém avança, perde toda a gente.

O que acontece no trânsito, é um exemplo simples de dar sobre o que é uma guerra com base na estupidez, porque está ali tudo aos olhos de todos, num movimento constante de contenda em que quem tenta ser mais esperto que os demais não consegue perceber que mais adiante nada ganhou com isso, simplesmente se prejudicou, inclusive, em casos limite, com a perda da sua qualidade de vida ou da própria vida, levando atrás de si vítimas da sua estupidez. Mas não é o único exemplo simples de dar para este contexto, existem outros, como as lutas entre colegas de profissão para se tirar mais vantagens de poder, monetárias e de influência, perdendo-se o espírito de união, a tal que faz a força, ou ainda num simples gesto tão banal quanto a entrada e saída de um local aberto ao público, numa loja comercial, por exemplo, em que o habitual é ver-se, mesmo com a loja cheia, quem pretende forçar a entrada no momento em que alguém pretende sair, não discorrendo os primeiros, que teriam mais vantagem se fizessem um breve compasso de espera antes de entrarem, facilitando a saída de quem o pretende fazer, libertando, desta forma espaço interior, facilitando a sua própria entrada e ao mesmo tempo revelando o essencial nestas coisas, a simpatia, esse tónico para um dia mais conseguido e alegre. Não!!! Nada disso, bem pelo contrário, a aposta vai, novamente, por via da estupidez. Naquela ânsia de se passar à frente de tudo e de todos, dificultam os passos alheios e os próprios.

Assim como não existe mentira pequena ou grande, existe, simplesmente, mentira, ou vício bom ou mau, existe, simplesmente, vício, com a estupidez é igual, nem pequena, nem grande, nem boa nem má, existe, simplesmente, estupidez. Por isso, nestes simples exemplos conseguimos aferir e entender muito melhor a estupidez noutros patamares, aqueles em que por mera ânsia de se passar à frente do seu semelhante, a criatura estúpida a quem foi dado poder para representar uma maioria de gente estúpida, poderá cometer a estupidez de acionar o mecanismo nuclear que nos destruiria a todos, mesmo que ciente das consequências, convencido que até poderá ter a sorte de escapar da sua própria estupidez.

Existe quem seja mais contido nas palavras ao referir-se a este mesmo tema, ou o torne mais eufémico, como Wole Soyinka, ao dizer que o “inaceitável está a tornar-se norma”. Porém, a gravidade da situação já não permite dessas inibições, urge tratar o assunto pelo próprio nome e olhos nos olhos, porque estupidez ainda consta nos dicionários e o seu significado é, independentemente da semântica aplicada, “a ausência de qualidades como, por exemplo, de inteligência, de delicadeza e de sensibilidade”, sendo que a maior estupidez da criatura estupida é não ter consciência que é estupida.



Pedro Ferreira © 2022
(Todos os Direitos Reservados)

Sem comentários:

Enviar um comentário