O amanhã não está garantido!
Como toda a estrada, existe o princípio
e o fim na vida de todos nós, ambos um mistério.
No início, pautado pela
inocência, ao colocarmos o pé na estrada pela primeira vez, apenas trazemos uma
mala por fazer. Conforme formos dando os primeiros passos, recolhemos sensações
trazidas pelo ambiente em redor, que vamos guardando nessa mala e que nos
acompanharão estrada fora.
É natural que nos primeiros
quilómetros exista a tentação de olhar somente em frente, movidos pela
curiosidade do que existirá mais adiante, mesmo que receosos e com um pé mais
vagaroso, numa espécie de cordão umbilical que se agarra ao ponto de partida enquanto
se aguenta sem rebentar, o que acaba por acontecer, aquando das primeiras quedas.
Porque sim, as quedas fazem parte do caminho, acontecem com maior ou menor frequência,
dependendo muito dos obstáculos que nele se possam vir a encontrar, ou até,
pelas distrações, geralmente provocadas pelo deslumbre que a beleza da paisagem
nos proporciona.
Qual seria o sentido da
existência de uma estrada circular, sem entradas ou saídas? Regressar sempre ao
ponto de partida e andar numa roda-viva, parece, realmente pouco interessante e
de nenhuma utilidade. Talvez, por isso, as estradas têm como principal propósito,
fazer-nos chegar a um destino.
Enganos, nesta jornada que se
deseja longa e repleta de conquistas e felicidade, também acontecem, porque
estradas e caminhos, encontram-se em abundância, entroncados, podendo causar ao
viajante, a espaços, alguma indecisão, de qual a melhor opção a tomar, que em
caso de não se verificar, poderá resultar na necessidade de se dar uns passos
atrás, ou pior, inventar caminhos para soluções possíveis de regresso ao
destino, por vezes, as mais dolorosas.
Ladeados de uma multiplicidade de
cenários, preenchidos por outros caminhantes, mais adiante, com a mala ainda
meio cheia para uns e menos vazia para outros, o peso faz-se sentir e a
descrença pode acontecer. Seguirão adiante, somente os mais fortes, aqueles que
tropeçam, caem e voltam a levantar-se, ensanguentados, pisados ou até definitivamente
limitados, não importa, porque, a mala pode pesar cada vez mais, mas é dela que
vamos tirando a sabedoria que comandará os passos seguintes.
Árvores, passam a ser vistas como
a saudade de alguém que vive no nosso peito, mas que já não caminha a nosso lado;
belos animais como outra forma de vida que diante de nós se atravessam com a
mensagem clara de que estamos somente de passagem pelo mundo; o chão que
pisamos, como a prova de que nem a mais dura matéria resiste perante os
limites; as edificações do homem, são apenas coisas sem vida, incapazes de nos
servir a alma, meros recantos de descanso ou prazer; as máquinas, representando
a escravidão que conseguimos delegar para que o nosso corpo não parta.
Ultrapassados estes dolorosos
quilómetros de aprendizagem, é, pois, chegado o momento de se começar as
esvaziar a mala de algum desse peso, bastando para o efeito, o maravilhoso
exercício que consiste em deixar pelo caminho, marcos de orientação para todos
quantos possam vir mais atrás em maiores dificuldades.
Daí em diante, o céu é o limite.
Pedro Ferreira 2020
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