Entender o verdadeiro sentido do não retorno nas
diversas formas de abandono deveria ser uma reflexão sempre pertinente, nomeadamente
sobre aquele tipo de abandono que é provocado pela indiferença dos que nos são
mais próximos nos momentos mais difíceis.
O Abandono deixa sequelas que não permitem o
"encontro", a convivência entre o abandonado e o que abandona ficará
invariavelmente condicionada e o ambiente pesado, obrigando a um novo
afastamento, o não "encontro".
Curioso nisto, é que até pode existir Amor entre
pais e filhos, entre irmãos, entre casais, entre amigos, que votam o outro ao
abandono, e esse mesmo Amor subsistir durante o período de afastamento até ao
reencontro, mas a mágoa será tão grande que turva esse Amor e este deixa de
poder ter ambiente para ser respirado.
Acautelar o risco de abandono deverá ser uma
preocupação constante de quem pretende ter uma ligação a outrem, e inconsciente
será todo aquele que não o faz, porque é preferível nada gerar a não poder
manter, seja qual o tipo de relação interpessoal que esteja subjacente.
Por isso só deveriam: os casais responsáveis
serem pais para que não tenham de abandonar os seus filhos e tantas formas de
abandono aqui caberiam, sendo a mais comum o presencial sem um olhar atento às
necessidades das crianças, o brincar e conversar com elas; os enamorados
responsáveis namorar, para que não se repita a cada instante o traumático
"abandono no altar"; os noivos responsáveis casar, para que um ou
ambos dos cônjuges não fique abandonado dentro de quatro paredes; os irmãos
responsáveis permanecer para que a mão de um deles não se recolha quando o
outro mais dela necessitar; os amigos responsáveis conviverem para que nos
momentos de aflição não sintam necessidade de encolher os ombros e abandonar o
mais fragilizado; os filhos responsáveis ficarem para não terem de abandonar os
seus pais quando idosos em lares e hospitais.
Abandonar não permite mesmo
"encontrar", tudo fica definitivamente perdido.
Não deixar de lutar por quem se ama é a atitude
mais correcta para garantir o "encontro" em caso de eventual perda.
Como alguém um dia disse, “podemos encontrar as
coisas que perdemos, mas nunca as que abandonámos.”
Pedro
Ferreira © 2016
(Todos os
Direitos Reservados, Registo de Obra n.º 2629/2017, revisto em 26-12-2017)
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