terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Abandono entre muitos…



Entender o verdadeiro sentido do não retorno nas diversas formas de abandono deveria ser uma reflexão sempre pertinente, nomeadamente sobre aquele tipo de abandono que é provocado pela indiferença dos que nos são mais próximos nos momentos mais difíceis.

O Abandono deixa sequelas que não permitem o "encontro", a convivência entre o abandonado e o que abandona ficará invariavelmente condicionada e o ambiente pesado, obrigando a um novo afastamento, o não "encontro".

Curioso nisto, é que até pode existir Amor entre pais e filhos, entre irmãos, entre casais, entre amigos, que votam o outro ao abandono, e esse mesmo Amor subsistir durante o período de afastamento até ao reencontro, mas a mágoa será tão grande que turva esse Amor e este deixa de poder ter ambiente para ser respirado.

Acautelar o risco de abandono deverá ser uma preocupação constante de quem pretende ter uma ligação a outrem, e inconsciente será todo aquele que não o faz, porque é preferível nada gerar a não poder manter, seja qual o tipo de relação interpessoal que esteja subjacente.

Por isso só deveriam: os casais responsáveis serem pais para que não tenham de abandonar os seus filhos e tantas formas de abandono aqui caberiam, sendo a mais comum o presencial sem um olhar atento às necessidades das crianças, o brincar e conversar com elas; os enamorados responsáveis namorar, para que não se repita a cada instante o traumático "abandono no altar"; os noivos responsáveis casar, para que um ou ambos dos cônjuges não fique abandonado dentro de quatro paredes; os irmãos responsáveis permanecer para que a mão de um deles não se recolha quando o outro mais dela necessitar; os amigos responsáveis conviverem para que nos momentos de aflição não sintam necessidade de encolher os ombros e abandonar o mais fragilizado; os filhos responsáveis ficarem para não terem de abandonar os seus pais quando idosos em lares e hospitais.

Abandonar não permite mesmo "encontrar", tudo fica definitivamente perdido.

Não deixar de lutar por quem se ama é a atitude mais correcta para garantir o "encontro" em caso de eventual perda.

Como alguém um dia disse, “podemos encontrar as coisas que perdemos, mas nunca as que abandonámos.”


Pedro Ferreira © 2016
 (Todos os Direitos Reservados, Registo de Obra n.º 2629/2017, revisto em 26-12-2017)

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