Se tivessem cor, seriam mais facilmente detetáveis. Porém, fosse qual fosse a cor das lágrimas, apenas seriam visíveis aquelas que caem.
As lágrimas que não caem não são lágrimas, são porções de água retida em sólidos depósitos, sem fissuras.
Nem sempre, somente onde se veem gotas a pingar se esconde água em abundância. Por vezes, é necessário escavar bem fundo, na mais sólida superfície, para se encontrar tão precioso líquido.
Que corram, pois, as lágrimas que se escapam das estruturas mais frágeis, para que se evitem ruturas violentas e consequentemente danos elevados em redor, não vem do choro mal algum, pelo contrário, alivia a tensão e recomenda-se.
Desengane-se quem acreditar que apenas a água que passa à nossa frente segue agitada, porque também longe do alcance da vista as águas se agitam em violentas tempestades, onde apenas a bravura se atreve a navegar.
Assim sendo, paradoxalmente, a transparente lágrima, mais facilmente passa despercebida entre as opacas palas, do que se faz notar pelo brilho dos olhares atentos.
Pedro Ferreira © 2022
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