domingo, 9 de agosto de 2020

A Máscara

A máscara, símbolo de 2020, que desta forma será registado nos anais da história mundial.

Parece castigo!

Castigo, porque a humanidade estava a revelar e continua a revelar, comportamentos que desvirtuam a própria condição humana, que de alguma forma teriam de despertar este alerta pandémico e posterior necessidade de utilização deste objeto feio e incómodo.

Não parece ser fruto do acaso ser logo este objeto, com todo o seu vasto significado, a se destacar neste momento da nossa história, quiçá alerta divino para que se pare e se dê um passo atrás até ao ponto aonde tudo começou a correr mal.

Máscara, para além do seu efeito protetor anti propagação viral - um mal necessário - como qualquer acessório associado aos cuidados de saúde, torna-se incómodo e desconfortável quando de uso recorrente. E se, por um lado, protege-nos, por outro, “sufoca-nos” e priva-nos de respirar convenientemente, causando efeitos secundários em muitas pessoas, como suores, tonturas e alergias, de entre tantas outras que seria aqui exaustivo referir, todas limitativas e por aqui parece começar esse eventual chamado de atenção à humanidade, pois, acabamos por viver, devido a este quase inocente objeto, uma vida contranatura. No fundo, perdemos qualidade de vida;

Máscara, curiosamente, tantas vezes o símbolo das personalidades transtornadas, daquelas que por detrás dela escondem o seu verdadeiro ser, malévolo! À frente vai a máscara, ou as múltiplas máscaras, quase uma para cada novo dia, assim seguem estas personagens do lado escuro da humanidade. Agora, recordadas pela semelhança simbólica, novamente numa espécie de alerta para os perigos que crescem e que se escondem por detrás de uma máscara;

Máscara, aparece, novamente, como o símbolo do Carnaval, a festa pagã que cresce e toma mais relevância e importância que qualquer outra, ano pós-ano, mais investimento e espetacularidade, assim como mais depravação e contágios de doenças por essa via. Muito se divertiu, gozou e gastou e continua a gastar com máscaras e demais adereços nessa época do ano, num autêntico atentado à dignidade humana, quando nem sequer pão existe para todos;

Máscara, é também o objeto que agora encobre o rosto, aquele que até então levava aos excessos de enfeites, com carradas de bases, cremes, batom e afins. Também um alerta ao considerável investimento que se faz em futilidades para se parecer o que não se é, como se a idade fosse uma vergonha;

Máscara, surge como uma barreira ao sorriso. As pessoas já não sorriam muito umas para as outras, vivia-se e vive-se cada vez mais um clima de desconfiança, ensombrado com olhares cruzados, e quando o faziam, o sorriso tendia ao amarelecimento. Agora, os poucos genuínos sorrisos que ainda subsistiam levaram o golpe final, como se uma voz divina dissesse que o tempo é de tristeza, tivessem feito pela alegria de todos e não o contrário;

Máscara, um inibidor de beijos e carícias, no fundo, de afetos, cuja falta é o maior flagelo da humanidade, agora ainda mais limitados, de novo, uma outra espécie de alerta, o mesmo castigo, por se ter trocado os afetos pela depravação;

Máscara, um condicionante ao diálogo, fazendo o ser-humano despertar para o quão importante é a comunicação, aquela que leva ao entendimento, que agora nem em surdina se consegue ter;

Máscara, serve para mascarar! Portanto, algo tantas vezes associado à mentira e omissão, essa praga que dominou o ser-humano, uma ferramenta de uso corrente que se torna demolidora para os que agem de boa-fé;

Máscara, objeto associado ao ocultismo, a práticas satânicas e feitiçaria, algo em crescendo ano após ano, numa espécie de brincadeira muito perigosa com aquilo que mais queima, a alma em particular…, eis a máscara no seu pior significado;

Máscara, de uso obrigatório perante a abordagem à tentativa de tratamento de toda a toxicidade espalhada pelo mundo que destrói, já sem retorno, grande parte da natureza.

De máscara em máscara, as atrás recordadas e tantas outras, a humanidade foi avançando, até esta máscara, quem sabe a derradeira, que talvez reúna todas as outras, que vem provar ainda que não é verdade que somos livres, assim como também não é verdade que alguém se possa considerar independente. Assim, de uma vez só, e num abrir e fechar de olhos, ficamos cativos de algo tão deprimente e confrangedor quanto este simples objeto feito de um pano e dois elásticos. Pior afronta para a dignidade humana, será difícil encontrar!

 Pedro Ferreira

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