A evolução da
humanidade não passa de um mito. Afinal de contas, basta abrir qualquer rede-social
e constatar isso mesmo. Tecnologicamente existem grandes progressos, sem
dúvida, mas algo ficou para trás e que dá sempre muito jeito, é que para o bom
usufruto das coisas, entretanto inventadas e postas à disposição de todos à
escala mundial, seria bom também contar com outro tipo de evolução, a mental,
pois sem esta última dá asneira na certa e de nada serve o progresso a outros
níveis.
As coisas são boas ou más mediante o uso que lhes
damos, como uma faca, que tanto serve para descascar uma maça como
para matar uma pessoa.
As redes-sociais não fogem à regra, são ótimas à
partida, mas podem ser desastrosas quando mal-usadas, e isso é cada vez mais
notório, talvez em virtude da própria evolução das coisas, porque deixam de ser
novidade e rapidamente se entra na fase do uso e abuso até à saturação e
posteriormente à fase do desinteresse, culminando com o já previsível abandono,
tudo isto até surgir algo novo e entusiasmante que volte a mexer com as massas.
A mente vai ficando descorada, e entre aquilo
que constatamos a esse nível em tempos longínquos, por exemplo, muito bem
representado nos Autos de Gil Vicente, e aquilo que hoje vemos acontecer no que
se poderia muito bem apelidar de Auto da “Facefarsa” do Inferno, não se encontra
grande diferença, ou seja, as mentes não evoluíram, e as personagens são
perfeitamente enquadráveis, desde o Enforcado à Brísida Vaz, passando pelo
Diabo e naturalmente o Anjo, entre os demais, como ainda repescando as
personagens do Auto da Índia, a Ama, a Moça e o Marido.
Desperta especial curiosidade a alcoviteira, personagem
que talvez represente na perfeição o que nas redes-sociais se passa, desde as
adivinhações aos arranjinhos tão evidentes, mas sem descorar as demais
personagens destas intrincadas e complexas ligações entre o mundo virtual e o
real, como o Marido traído, o amante Castelhano e a Ama tudo e todos, claro
está, em enredos que já não se destacam de tão banais se terem tornado.
Muitas pessoas tendem a encarnar este mesmo tipo
de personagens porque as suas mentes ficaram perdidas em tempos idos, no das
vãs deduções e julgamentos sumários que aconteciam a torto e a direito, ao
ponto de ainda não terem aprendido que em qualquer Auto da Vida, existe sempre
mais que uma versão e aos adultos já se pede, no mínimo, reflexão, atendimento
e entendimento de tudo e de todos.
Também são muitas Leonor Vaz (mulheres ou homens)
que nestes ambientes se fazem notar, são como a prata da casa, novamente
espelho da não evolução mental, quiçá neste caso até de retrocesso, pois também
estas redes-sociais são indevidamente aproveitadas por fofoqueiras intriguistas
para sussurrarem ao ouvido do mural alheio.
Só se pode considerar uma mente evoluída toda
aquela que não se dá a vãs deduções, tampouco juízos de valor, que ouve em toda
a linha, é de mente aberta (não confundir com promiscuidade) e que não deixa de
dizer o que pensa, pois, pensa, mas pensa para si e di-lo em sede própria e a
quem de direito.
Pedro Ferreira 2016
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