sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Esquizofrenia Coletiva

Estamos em fevereiro de 2022 e o mundo assiste aos horrores da guerra. Uma guerra que apenas um individuo desejou, orquestrou e iniciou, sem motivo que o justifique, numa espécie de manifestação de vaidade.

Desde sempre que o ser-humano se foi organizando em grupos liderados por um dos seus membros, algo que não tem uma explicação plausível, mas que tem perpetuado ao longo da história, deixando-nos um legado infindável de heróis e de falsos heróis, que com maior ou menor destaque, de memoriáveis feitos e desfeitos, perpetuam até à eternidade em estátuas e noutros suportes documentais.

Se a liderança for boa, porque a cabeça que dita a sentença for equilibrada, as condutas são as corretas e o benefício é comum. Porém, se a liderança for má, porque a cabeça que dita a sentença for desequilibrada, as condutas são incorretas e o prejuízo é comum.

Infelizmente, não são poucos os casos narrados nos anais da história da humanidade onde se verificou a forte presença de líderes com uma personalidade transtornada que conduziram uma multidão para um cadafalso sem retorno, perigando a própria existência da espécie.

A história deveria servir, não apenas para contar histórias, mas também para que o ser-humano se documente devidamente de forma a poder agir em conformidade, evitando cometer os mesmos erros, sendo que esses infindáveis documentos onde se prova que um sistema organizacional assente em lideranças de um só membro tem uma forte probabilidade de insucesso, talvez porque a ambição humana é desmedida e quando a um só elemento lhe é concedido poder, fica aberto o caminho sem fim para os objetivos pessoais mais perversos de quem tem má índole.

Curiosamente, a história também já nos revelou que do outro lado de uma liderança erronia, existem sempre muitos oprimidos e subjugados, assim como uma ínfima parte de revoltosos contra o sistema, tantas vezes feridos do mesmo mal, ou seja, organizados sob as ordens de uma só cabeça, quiçá mais perversa que aquela que tentam combater.

A humanidade, na atualidade, supostamente deveria encontrar-se num estádio de evolução bem mais avançado, mas infelizmente tal não se verifica, em certos aspetos até denota ter regredido para uma fase semelhante à medieval ou anterior, com características idênticas, nomeadamente aquela em que é possível a ambição de uma só criatura poder desencadear a chacina de milhões de inocentes, seguindo os mesmos métodos, como a tomada de territórios vizinhos, ocupando-os e neles impondo as suas regras, sem dó nem piedade ou qualquer respeito pela vontade coletiva de um povo com cultura e tradições próprias.

Talvez seja este o momento da história da humanidade em que se tenha chegado ao limite viável para podermos optar por outro rumo com outros modelos organizacionais totalmente diferentes dos que têm imperado até ao momento, assentes em lideranças coletivas, ricas em conhecimentos diversificados que pensem com sensatez e distribuam responsabilidades e méritos entre si, em contraponto aos atuais modelos de liderança de uma só cabeça, sob pena de, assim como já nos deitamos à noite em paz e acordamos de manhã em guerra, quem sabe já esta noite nos deitamos a sonhar com a paz e não acordamos mais.

"A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora."

Benedetto Croce

Esta ausência coletiva de noção dos factos, da lógica e das evidências, a perda de memória das lições do passado, o isolamento do individuo para não ver a causa comum, a irritabilidade por coisas de somenos importância e a apatia perante as de maior, assim como um estado latente de insatisfação e tristeza, transportam-nos para uma espécie de esquizofrenia coletiva.


Pedro Ferreira 2022

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