sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Não Seria Suposto Acontecer

Conforme se sabe, nas últimas décadas assistimos a um “boom” no número de divórcios/separações, relações findas, das quais, geralmente, houve frutos, alguns ainda menores, que bem ou mal, lá se foram adaptando à nova realidade dos pais.

Naturalmente, o comum é, pós-rutura, cada uma das partes seguir o seu caminho, quer uma delas o faça contrariada ou não, pois, infelizmente, ainda existe quem, à viva força, teime em ter a seu lado quem já não quer estar, mas não lhe restará outra opção senão essa, reencontrar-se num novo registo que já não será ao lado de quem se habituou a estar.

Deste tipo de desfecho, tem sido padrão, ser atribuído à mulher a morada de família, principalmente quando existem menores a cargo, mesmo que a guarda partilhada tenha passado a ser o mais comum nos últimos anos, algo que parece estar a funcionar e quiçá, ter permitido abrir a caixa de pandora, onde se afere, quem efetivamente é mais capaz de exercer as suas funções de bom cuidador, logo, grandes surpresas vieram à tona desde então.

Operacionalidades à parte, revestidas do seu ideal de pragmatismo, acreditando-se que toda a medida tomada entre as partes tem em vista o bem-estar comum, passemos às questões de maior subjetividade, os entendimentos e desentendimentos entre as partes…

Também neste aspeto, comummente, finda a relação é atribuído ao lado feminino o papel de vítima e ao masculino o de mau-da-fita de algo que, inquestionavelmente, correu mal, seja num aspeto específico da vida em comum, ou noutros, é habitual ler-se/ouvir-se a mulher a queixar-se com muito desagrado daquilo a que esteve sujeita, numa espécie de grito de libertação, ao passo que o homem, no seu papel menos efusivo nestes momentos, tende a remeter-se ao silêncio, que pode pressupor um assumir de culpa.

Desde violência física, psicológica, verbal, a desinteresse pelos filhos, ou abandono do lar, de entre tantas outras acusações, assim se escreve, pelo punho da mulher, a história de ambos. Em contrapartida, pelo silêncio do homem, se conta uma história que ninguém sabe se real ou fictícia.

Efetivamente, existem assuntos que não poderão ser abordados sem se generalizar, este é um deles! Por tal, aqui se explanam tendências que resultam da voz corrente entre partes. No entanto, nada disso confere a veracidade dos factos. Observe-se, então no seguinte…

O mais natural, perante este cenário, em que cada uma das partes parece ter o seu papel bem definido, surge a questão: não seria suposto, nessa nova caminhada a mulher ficar em vantagem perante a possibilidade de refazer a sua vida afetiva e o homem no papel de indesejado?

Curiosamente, não são poucos os casos em que se verifica, exatamente o contrário, ou seja, o homem a refazer a sua vida, com alguém que o ama e enaltece grandemente e que lhe dá mais filhos, numa nova família, onde se incluem em sã convivência os filhos que já tinha, com quem nutrem uma excelente relação, tendo o pai como uma referência. Entretanto, por seu lado, a mulher, que aparentemente “aguentou” um mau homem durante muitos anos, salta de relação em relação, sem nunca se assertar e não aguenta nem um mês perto de um bom homem que goste dela. Sendo ainda de referir, que com os filhos a relação se deteriora com o tempo, preferindo estes, cada vez mais, ficar com o pai que com a mãe.

Posto isto, longe de um pressuposto sexista, mas apenas com base em dados concretos e transversais, é de se levantar a questão, do porquê de tal fenómeno, se é que de um fenómeno realmente se trata, ou se, na verdade, estaremos perante um rol contagioso de histórias mal contadas, pois, a ser verdade o que se ouve por aí, não seria suposto acontecer assim, mas ao contrário.

Aqui poderá caber, perfeitamente, o conceito de maltrato, que tem muito para dissecar, na medida em que, em muitos casos, começa cedo demais e de uma forma bem refinada: aquele silêncio ensurdecedor; aquela chantagem emocional; aquela birra; aquele amuo; aquele “não sei o quê”, só porque sim; aquela indiferença; aquele murmúrio; etc. Anos após anos nesta desgastante moinha é das formas de violência mais insuportáveis que se pode sofrer, que conduz a parte lesada a um acumular de stress que pode rebentar a qualquer momento... Quem sabe o momento em que passa a ser o mau-da-fita!



Pedro Ferreira 2021


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